R$ 500 milhões para evitar a morte do Rio Joanes


Os municípios de Camaçari e Lauro de Freitas, que integram a Região Metropolitana de Salvador, estão determinados a colaborar com a revitalização do Rio Joanes que, está ameaçado de morte por conta do alto nível de poluição. Juntas, as duas cidades investirão cerca de R$ 500 milhões em saneamento básico e limpeza do rio e seus afluentes. Uma contribuição importante e oportuna para evitar o atestado de óbito do Joanes, alvo de elevada carga orgânica e de contaminação por esgotos urbanos.
 
Em Camaçari, por exemplo, serão investidos aproximadamente cerca de R$ 300 milhões. “O grande trunfo que Camaçari tem é fazer com que os esgotos sejam canalizados. Reconhecemos que a situação do Joanes é crítica e estamos investindo R$ 64 milhões, que são recursos oriundos do PAC ( Programa de Aceleração do Crescimento), numa obra de saneamento básico que será concluída em setembro”, informou José Cupertino, secretário de Desenvolvimento Urbano do município. “Esta obra permitirá que os dejetos que poluem o rio sejam destinados para o emissário da Cetrel (Central de Tratamento de Efluentes Líquidos), localizado a cinco quilômetros da praia”, confirmou Cupertino.
 
“Uma outra contribuição de Camaçari para acabar com a poluição do rio Joanes é a revitalização do Rio Camaçari que corta a cidade e deságua no Joanes Já temos uma verba garantida de R$ 230 milhões do Ministério das Cidades e, entre outras iniciativas, vamos retirar 1.600 casas da beira do rio e evitar o assedio direto da população ao rio. Depois, a gente terá que esperar a natureza fazer a sua parte, porque ela se recompõe”, disse José Cupertino.
 
Dentro do projeto de Revitalização e Urbanização do município de Camaçari, ainda está a implantação de equipamentos de lazer com áreas para a prática de atividade física e parque infantil, vias estruturantes que ligarão avenidas importantes do Município, escola, estacionamentos, arborização, iluminação e a recuperação do Morro da Manteiga. O projeto contempla os rios Camaçari, Pedreiras, Eiu Branco, da Prata, Mandu e Piaçaveira, além do Canal da Acajutiba.
 
No total, serão 25 quilômetros de intervenção. A implantação do esgotamento sanitário de Camaçari, que conta também com investimentos da ordem de R$ 25,5 milhões por parte do Governo do Estado, é a obra mais importante da história do município e trará inúmeros benefícios para a população e o meio ambiente, pois evitará a contaminação do solo, rios e córregos, além de diminuir o gasto com saúde pública no tratamento de doenças que são transmitidas por água contaminada.
 
Atualmente estão sendo executadas as obras de construção do emissário de gravidade, sistema que vai bombear os dejetos do Espaço Alfa até a Cetrel. De acordo com o secretário Municipal da Infraestrutura, Everaldo Siqueira, esta fase deve ser concluída ainda este mês. “Já estamos com 80% desta etapa concluída, o que representa oito quilômetros de intervenção”, adiantou.
 
Antes de chegar a Lauro de Freitas, o rio Joanes corta sete municípios, acumulando poluição por onde passa. Afluentes trazem dejetos de muito longe, como o Ipitanga, que corta bairros carentes de Salvador, com percurso de 37 quilômetros. No entanto, a prefeitura de Lauro de Freitas vem realizando diversas ações para minimizar os impactos sobre o manancial.
 
A fiscalização tem se intensificado. Em janeiro, a empresa Litoral Limpeza Industrial, que funcionava no bairro do Caji, em Lauro de Freitas, foi embargada por crime ambiental. A Asa Incorporadora foi flagrada despejando resíduos sólidos provenientes da construção civil no leito do rio Ipitanga. Segundo o secretário da Smarh, Vidigal Cafezeiro, o crime estava causando o assoreamento e aterro do rio.
 
Recuperação do manguezal
 
Lauro de Freitas captou 170 milhões de reais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para implantar a rede de esgotamento sanitário de todo o município. As obras, que serão finalizadas até 2012, irão evitar que esgotos sejam despejados indevidamente nos córregos e rios de Lauro de Freitas, minimizando os impactos sobre o meio ambiente. A prefeitura informou, através do seu Departamento de Comunicação, que realiza recuperação de parte degradada do manguezal do rio Joanes através de parceria com empresas da região.
 
Exemplo foi área de 1.100 m² aterrada num flagrante desrespeito às leis ambientais. A tarefa envolveu remoção cerca de 1.400 m3 de terra, entulho e pedras, preparando o terreno a onde 20 membros da Colônia de Pescadores da Praia de Buraquinho plantaram 10 mil mudas de mangue nativo, recuperando assim um dos maiores passivos ambientais do Município. O rio Sapato, afluente do Joanes, também recebeu mudas em trabalho realizado em conjunto entre a prefeitura e o G Barbosa.
 
“Se não houver nenhuma atitude pro ativa no sentido de recuperar o rio, ele estará  morto em cinco anos”, declarou à Tribuna o engenheiro químico Hildebrando Gonsales, morador do Condomínio Pedras do Rio, localizado em Lauro de Freitas, que recebeu o resultado da análise de amostra de água do Rio Joanes, coletada sob a ponte da Estrada do Coco por técnicos da Cetrel, a pedido do próprio Hildebrando, que indicou uma elevada carga orgânica e ocorrência de parâmetros indicadores de contaminação por esgotos urbanos.
 
“Está bastante claro que esta poluição do rio vem dos esgotos. O não tratamento do material despejado pelos esgotos a céu aberto ao longo dos anos é fatal. Contudo, temos que ser otimista. A movimentação popular, junto com o interesse demonstrado pelos poderes públicos de promoverem uma ação concreta para salvar o rio, poderá levar à recuperação e revitalização do Joanes”, comentou Gonsales.
 
“Morto o rio já está”, acredita José Tomaz dos Santos, 52, presidente da Colônia de Pesca Z 57, de Buraquinho, e da Associação de Pescadores local. Para ele, a solução para o drama do JoQanes está nas obras que os municípios de Camaçari e Lauro de Freitas estão realizando. “Essa é a nossa expectativa. Muitas famílias que dependem do manguezal não estão tirando mais o sustento. O rio precisa ser ressuscitado”, enfatizou Tomáz.
 
Fonte: Nelson Rocha / Tribuna da Bahia

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