Ainda o caos

Por Kátia Mello
katia.mello@folhauniversal.com.br


Há 1 ano, o Haiti, país localizado na América Central, sofria o pior terremoto registrado em sua história. No dia 12 de janeiro de 2010, um tremor de magnitude 7 atingia a capital, Porto Príncipe, matando mais de 250 mil pessoas e deixando 1,3 milhão de desabrigados. Nos últimos 12 meses, o país não sofreu apenas os efeitos do desastre natural, mas também com uma série de focos de revolta civil contra a falta de comida, escassa desde a crise econômica de 2008; protestos políticos, que existem e se renovam desde os anos 50; além de um surto de cólera iniciado em outubro passado, que já matou mais de 2,5 mil haitianos e ainda não está sob controle. A estimativa dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) é que mais de 120 mil haitianos estejam infectados atualmente.

“Nas comunidades onde conseguimos nos comunicar com eficácia a doença se estabilizou e até diminuiu o número de casos. Mas o controle ainda está longe de ser alcançado”, diz Delphine Chedorge, chefe de missão de MSF no país. Ela ressalta que a educação é um aspecto crucial para parar a cólera, porque as pessoas precisam saber como evitar a contaminação. “Quando abrimos novos centros de tratamento, é para conter a propagação da doença, protegendo as comunidades, ao invés de colocá-las em perigo”, completa. A organização mantém 4 mil voluntários em 47 centros de tratamento no país.

O surto de cólera se deve principalmente à lentidão nas obras de reconstrução do país. Praticamente todos os desabrigados pelo terremoto se mantêm acampados em cerca de 1,4 mil campos espalhados pelo país, sem acesso a água potável e saneamento básico – problema que existe em todo o Haiti e torna ainda mais difícil o controle da epidemia. O surto provocou a ira da população, que atacou tropas da ONU em novembro passado. Conhecidos como “capacetes azuis”, os membros da Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, em tradução livre) têm sofrido ataques de civis por diferentes motivos, entre eles pelo surto de cólera.

“É difícil agradar a todo mundo. A vontade de voltar para casa, a necessidade de atendimento em hospitais, a falta de comida e água potável elevam o nível de estresse. A Minustah existe para ajudar a manter a ordem e a segurança no país, criando um ambiente estável para que o trabalho de reconstrução e as ajudas humanitárias possam funcionar”, explica o Major Adilson Akira Torigoe, da Seção de Informações Públicas da Força Militar da Minustah.

A reconstrução do país caminha lentamente e é apontada por especialista como descoordenada e sem planejamento. “O correto era que fossem montados pequenos bancos de crédito para que a população pudesse ter acesso ao dinheiro e, com isso, comprar materiais para fazer a reconstrução de suas próprias casas. Do que adianta o governo liderar a reconstrução de mil casas? Nesse ritmo, imagine quantos anos levará para que todos tenham novamente um lar”, analisa a socióloga Michèle Oriol, professora da Universidade de Estado do Haiti. “Realmente o maior problema é a liberação das verbas.
Para 2011 existe a previsão de liberação de US$ 10 bilhões (R$ 17 bilhões). A reconstrução será feita aos poucos e vamos atuar aqui até que o governo do país volte a ser soberano”, esclarece o Major Torigoe.

O primeiro turno das eleições presidenciais ocorreu no dia 28 de novembro, mas os votos tiveram de ser recontados por suspeita de fraude. A candidata Mirlande Manigat obteve 31% dos votos e o candidato do governo, Jude Célestin, obteve 22%. Eles devem disputar o segundo turno. O resultado gerou uma onda de protestos que levou a quatro mortes.

O resultado oficial deveria ter sido divulgado no último dia 20, mas foi postergado e deve ser noticiado até o fim do mês. “Acreditamos que, com a definição do novo presidente, a tomada de decisões fique mais firme e a confiança internacional aumente”, aposta Michèle. O Haiti e o mundo esperam que sim.

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